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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Os esportes como possibilidade de objeto de estudo para historiadores, sociólogos e filósofos.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume jun., Série 15/06, 2011, p.01-03.


Nas últimas semanas, o futebol nos pareceu a bobagem mais séria do mundo!
É copa no Brasil, o estádio que será construído ou não, atrasos no cronograma, jogo toda quarta-feira televisionado em canal aberto, final da libertadores da América.
Paralelamente aos ditos e não ditos da imprensa, às gafes e previsões fora do lugar feitas por comentaristas, historiadores, há muito vêem o esporte como um grande revelador social.
Antes de estabelecer criticas aos esportes, especialmente ao futebol, como ópio do povo, dentro do âmbito da política do pão e circo, deveríamos olhar para as práticas populares com uma visão mais branda.
Será que os esportes não são um excelente objeto de estudo para historiadores, sociólogos e filósofos.


A paixão nacional.
Por trás das bandeiras coloridas, rojões e batucadas, ou seja, da “paixão” pela “gorduchinha”, encontramos uma série de valores que fundam as sociedades contemporâneas.
A “bobagem mais séria do mundo” se enraíza numa série de características: a simplicidade das regras, a exaltação emotiva durante os jogos, a valorização do mérito e da solidariedade, o lugar irredutível da sorte ou do azar.

Mas, praticar o esporte ou torcer por um time é também uma questão de identidade.

No futebol, mais do que nunca, nos identificamos a um clube, a uma cidade, a um país.
Haja vista o cinza das cidades coberto pelo verde e amarelo.
Dizem alguns estudiosos, que o futebol, assim como outros esportes, não seriam mais do que uma forma moderna de barbárie, ou, se preferirmos, um substituto emocional para os grandes espetáculos que outrora se realizavam nas arenas.
A diferença é que hoje a máquina capitalista substitui a vontade dos Césares romanos.
Daí o lugar cada vez maior do dinheiro, da violência, do populismo, da corrupção e do “dopping”, no espetáculo esportivo.
Dizem outros que a lógica dinheirista capaz de irrigar o bolso de cartolas e dirigentes, caminha junto com a vontade de controle social destinada a impor uma falsa consciência das realidades a torcedores e telespectadores.
É a lógica do pão e circo.
Ou da grana mascarando a fraternidade humana.
Neste sentido, os esportes no Brasil simbolizam muito, dizem quem somos.
Resta aos doutores estudarem este fenômeno com maior seriedade e um olhar mais brando.


Concluindo.
Para além das várias interpretações, o que acompanhamos roendo as unhas, frente à televisão, é um espetáculo de beleza único.
Os corpos se estiram cada vez mais alto e mais longe; momentos de graça se alternam com gestos rudes; a coreografia dos músculos se conjuga à serenidade dos campeões; mesmo o caminhar tenso dentro do corredor que leva ao campo, parece um percurso iniciático que termina sob as luzes e os gritos da torcida.
A copa, mais uma vez, é nossa!
Graças a ela, enxergamos além dos gramados e vemos uma nação atravessada pelo medo, a violência e a insegurança mostrar um sorriso feliz.
Graças a ela, uma equipe de futebol pode ser um vetor de coesão, uma metáfora viva de integração, uma esperança de dias melhores.
Graças a ela, o verde da esperança derrama-se para além do estádio, cobrindo o país.


Para saber mais sobre o assunto.
DEL PRIORE, Mary (Org.). História do Esporte no Brasil do Império aos nossos dias. São Paulo: UNESP, 2009.


Texto: Profa. Dra. Mary Del Priore.
Doutora em História Social pela USP, com Pós-Doutorado na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (Paris/França).
Lecionou História do Brasil Colonial nos Departamentos de História da USP e da PUC/RJ.
Autora de mais de cinqüenta livros e atualmente professora do Programa de Mestrado em História da Universidade Salgado de Oliveira - UNIVERSO/NITERÓI.
Membro do Conselho Editorial de "Para entender a história..." desde 14/01/2011.

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Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

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