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segunda-feira, 7 de março de 2011

O que é Sociologia? - Reflexões sobre o nascimento e desenvolvimento da área.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume mar., Série 07/03, 2011, p.01-06.


No contexto contemporâneo, a sociologia tem se tornado um instrumental para diversas áreas do conhecimento humano, abarcando uma amplitude enorme de aplicações, passando pela educação, administração de empresas e história.
Porém, à medida que a sociologia penetra em outras áreas, especialmente a partir de sua introdução nos anos iniciais dos cursos superiores, faz-se grande a confusão conceitual quanto à natureza do conhecimento sociológico.
A base que deveria acompanhar o estudante universitário a partir do ensino médio não é solida, carece de tratamento teórico apropriado, sua noção do que é a sociologia, em geral, é equivocada.
Assim, pretendemos aqui abordar, justamente, o cerne do que deveria ser o ponto de partida para estudar a sociologia nas mais deferentes vertentes: O que é Sociologia?
O que implica em transitar pelo nascimento e desenvolvimento da área.


O que afinal é sociologia?
A sociologia poderia ser definida como uma área do conhecimento humano que tenta compreender o comportamento dos indivíduos quando integrados à sociedade.
Ao contrário da psicologia, que tenta alcançar a compreensão dos mecanismos que regem o comportamento de cada indivíduo, a sociologia estuda a interação entre os indivíduos e os mecanismos que possibilitam a integração e convívio entre as pessoas.
Neste sentido, assim como a sociologia é uma ciência auxiliar de outras áreas, também utiliza ciências auxiliares para analisar o desenvolvimento e fixação de padrões sociais alocados através de séculos de experimentação que, por sua vez, marcam consciente ou inconscientemente, normas de conduta coletiva.

É interessante notar que estas normas são seguidas por todos os indivíduos, ou pelo menos pela maioria, visando facilitar o convívio em grupo.
A idéia de Padrão Social foi desenvolvida por Durkheim.
Segundo ele, os indivíduos inseridos em sociedade tendem a reproduzir os atos das gerações mais velhas, através da imitação, criando padrões de comportamento.
A sociedade seria formada por estamentos, compondo uma pirâmide social, onde aqueles que estão no topo adotam os padrões de conduta formados historicamente ao longo de gerações.
Aqueles que estão em estamentos inferiores, além deste componente, tenderiam a reproduzir padrões de conduta das camadas superiores, demonstrando o desejo de deslocar sua realidade.
Ao usar o termo estamento, ao invés de classe, não estamos, obviamente, nos referindo a poder de confuso; mas sim a posição social norteada pelo status.
O que pode ser determinado pela classe social, embora, igualmente, pelo nível educacional, prestigio e uma série de outros fatores.
Portanto, a noção de estamento é mais ampla e genérica do que de classe social.
De qualquer forma, estudando a história do desenvolvimento dos padrões sociais, por exemplo, a sociologia colabora para o entendimento das questões do presente, tal como a pobreza, os maus tratos às crianças, a discriminação social ou o processo de escolarização.
É por isto que, diante de um desenvolvimento abrangendo quase dois séculos, a utilidade da sociologia foi elevada a múltiplos campos do saber.
Através da sociologia é possível entender a formação de padrões sociais e utilizar estas leis para facilitar o convívio social, amenizando possíveis conflitos.
Ou seja, a sociologia é uma tremenda ferramenta nas mãos de administradores de empresas, educadores e todos aqueles que lidam com pessoas.


Antecedentes para entender o nascimento da sociologia.
Recuando no tempo, poderíamos perceber que a sociologia só pôde se constituir-se como ciência a partir do pensamento de Copérnico, quando o eixo teocêntrico foi deslocado para o antropocentrismo, quando Deus deixou de ser o centro do universo para dar lugar ao homem.
Copérnico defendeu, no século XVI, a hipótese de que o universo aristotélico geocêntrico talvez estivesse errado, com todos os astros girando em torno da terra, centro da criação.
Segundo a teoria heliocêntrica defendida por ela, o sol seria o centro de um único sistema de planetas, dentre vários outros.
Uma conclusão obvia para nós, mas que constituiu na época uma tese controversa que, depois, seria também defendida e popularizada por Galileu.
Junto com Copérnico, o filosofo francês René Descartes, abriu caminho para o aparecimento da sociologia ao escrever O discurso do método, onde afirmava que toda ciência precisava possuir uma metodologia que a fundamentasse, propondo a divisão de problemas complexos em várias partes para facilitar a solução.
No entanto, seria graças a Revolução Francesa, no século XVIII, que a sociologia se tornaria uma realidade um século depois.
A sociologia surgiu, no século XIX, a partir do conhecimento acumulado e desenvolvido pelos iluministas.
Os filósofos ilustrados do século XVIII, a reboque das transformações advindas com o longo processo da Revolução Francesa, começaram a questionar o mundo ao seu redor, sistematizando e racionalizando todas as áreas do conhecimento.
Ao aplicar e criar instrumentos de caráter científico para entender o mundo natural, descobriram que o universo era regido por leis e padrões.
Além disto, dentro do intuito de iluminar o mundo através do conhecimento, organizaram a enciclopédia, subdividido o que antes era filosofia em várias outras áreas, organizando o saber, daí, inclusive, os iluministas serem também chamados de filósofos ilustrados.
Esta subdivisão do conhecimento continuaria a se especializar até originar a sociologia.


O nascimento da sociologia.
Dentro da tradição iluminista, em simultâneo a Revolução Francesa, depois da Revolução Industrial, surgiu à necessidade de entender como o mundo, então em acelerado processo de transformação, havia se configurado, como e porque a sociedade estava modificando seu comportamento.

Na Grã-Bretanha, a Revolução Industrial havia expulsado o homem do campo, tornando as cidades cheias de gente aglomerada em espaços pequenos para suprir as fabricas com mão de obra barata.

Foi dentro deste contexto que surgiram cortiços, com pequenas casas partilhadas por várias e numerosas famílias.
O que criou, inclusive, a necessidade de entendimento do comportamento das pessoas em sociedade para melhor organizar e manipular a população, otimizando sua força de trabalho.
A tentativa de racionalizar o comportamento social cientificamente, possibilitando o entendimento e, em alguns casos, o controle do comportamento dos indivíduos quando colocados dentro do seio da sociedade, fez surgir à sociologia enquanto ciência no século XIX.
O francês August Comte, autor da obra Regras do método sociológico, é considerado o pai da sociologia, isto porque foi o primeiro a definir a sociologia como a ciência que estuda a sociedade.
Entretanto, ao lado dele, outros teóricos estabeleceram as bases da teoria sociológica, tal como Spencer, Durkheim, Marx e Weber.
Estes nomes constituem os pioneiros e desenvolvedores da sociologia.


O desenvolvimento da sociologia.
A partir de um forte inicio na Europa, sobretudo na França, Alemanha e Inglaterra; a sociologia chegou aos Estados Unidos da América no inicio do século XX, assumindo uma função tipicamente norte-americana, condicionada a sua utilidade prática.
Foi quando a sociologia assumiu a função de mantenedora da ordem capitalista em funcionamento.

Depois que a sociologia perdeu credibilidade como ciência, entre 1900 e 1919, provou sua utilidade na década de 1920, ganhando novamente prestigio.

Neste período, várias pesquisas desvendaram os mecanismos de funcionamento da sociedade, estudando questões como a família, a educação, a religião e o funcionamento das instituições sociais.
A partir da década de 1960, a sociologia se tornou mais especializada, ampliando e compartimentando o leque de seus estudos para entender as questões do mundo moderno.
Na década de 1980, chegou ao extremo de focar sua atenção sobre os estudos das relações sociais dentro das organizações, visando facilitar o convívio forçado entre as pessoas para otimizar a produção, originando a sociologia organizacional.


Concluindo.
Para facilitar o convívio, a sociedade acabou se organizando naturalmente segundo uma hierarquia, compondo uma estrutura social.
Buscando entender os mecanismos de funcionamento desta estrutura, nasceu a sociologia no século XIX.
Constantemente questionada por teóricos da área de exatas, muitas vezes tratada como pseudociência, a sociologia está se mostrando hoje essencial para o entendimento do mundo contemporâneo.
Os clássicos tem sido revisitados e revitalizados, enquanto novas concepções trazem luzes sobre questões atuais.


Para saber mais sobre o assunto.
MARTINS, Carlos B. O que é sociologia. São Paulo: Brasiliense, 1985.
CORTELLA, Mario Sérgio. A escola e o conhecimento. São Paulo: Cortez, 1988.
GOMES, Candido Alberto. A educação em novas perspectivas sociológicas. São Paulo: EPU, 2005.
KRUPPA, Sônia. Sociologia da educação. São Paulo: Cortez, 2002.


Texto: Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Um comentário:

  1. Gostei muito do seu blog também, já estou te seguindo, agora fica o convite para seguir "Para entender a história..."
    Coloquei um link nos "Parceiros de Caminhada" para o seu blog.
    Forte abraço.

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Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

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