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Mensal entre 13 de agosto de 2010 e 31 de dezembro de 2012.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Peronismo – Parte 2: as origens.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 1, Volume set., Série 20/09, 2010.

Como Hitler na Alemanha e Mussolini na Itália, Perón chegou ao poder na Argentina através de meios legais.
Para entender como isto foi possível, devemos recuar até a crise mundial de 1929, causada pela quebra da bolsa de Nova York.
A crise afetou toda a Europa, inclusive a Inglaterra, principal compradora dos produtos agropecuários argentinos.
O agravamento da crise econômica possibilitou a ascensão do partido nazista na Alemanha.
O qual na época, por causa de uma tentativa frustrada de golpe que ficou conhecido como “putsh da cervejaria” e a consecutiva prisão de Adolf Hitler, encontrava-se em fase de declínio.
Assim a quebra da bolsa de Nova York, foi responsável diretamente pela revitalização do apelo popular da ideologia fascista.

A crise de 1929 na Argentina.
Na argentina, a crise de 1929, automaticamente diminuiu a demanda externa por produtos agropecuários.
Os quais foram responsáveis por uma relativa prosperidade vivida nos anos que antecederam a crise.
Diminuindo os preços e, conseqüentemente, a produção agropecuária, os argentinos passaram a sentir os efeitos da quebra da bolsa, já que existia uma forte dependência do capital estrangeiro.

Subordinada aos interesses dos produtores de carne e cereais, a Argentina assistiu então ao golpe de 6 de setembro de 1930.
O governo de Hipolito Yrigoyen foi derrubado.
O presidente representava a União Cívica Radical, caracterizada pela oposição ao Estado Oligárquico e por suas reivindicações de caráter liberal e democrático.
O Golpe foi ministrado pelo Tenente General José F. Uriburu e terminou representando uma volta ao poder dos tradicionalistas.
Além disto, acabou servindo aos interesses da Inglaterra, uma vez que sob o governo de Hipolito Yrigoyen, os interesses imperialistas ingleses vinham encontrando grande resistência.
O governo Hipolito havia se negado a estabelecer um acordo proposto pelos ingleses, no qual entre a Inglaterra sairia beneficiada pela compra de equipamentos ferroviários e de cereais.
Este acordo foi vetado pelo presidente, pois a Argentina ficaria obrigada importar muito mais do que teria capacidade de exportar, desequilibrando a balança comercial.

Conseqüências do golpe.
Nos anos 30, o golpe que derrubou o presidente Hipolito Yrigoyen, estabeleceu na Argentina condições extremamente favoráveis aos interesses ingleses.
Os militares convocaram eleições logo após o golpe, elegendo de forma fraudulenta o General Agustin Justo em 1931.  
Uma das primeiras medidas foi costurar um acordo com a Inglaterra.
Foi estabelecido o Pacto Roca-Runciman em 1933, através do qual a Argentina se comprometia a fazer inúmeras concessões de ordem tarifaria e no âmbito dos transportes e câmbio aos ingleses.
Em troca passava a existir uma condicional manutenção das quotas de importações inglesas de carnes, mas a Inglaterra passava a ter o direito de restringi-las quando lhe conviesse.
Portanto, era um acordo que beneficiava a Inglaterra em detrimento da Argentina, satisfazendo os interesses dos grandes pecuaristas, mas desagradando enorme parcela da população.
O grande problema é que devido às fraudes eleitorais, a população clamava por novas eleições, na qual certamente o governo pró-pecuaristas seria derrubado.
A questão foi solucionada através de novas fraudes eleitorais, com a eleição de Roberto M. Ortiz em 1937, o qual falece em 1940, sendo substituído por seu vice-presidente Ramón Castilho.
Durante este período houve um relativo crescimento industrial interno, estimulado pelo declínio do comércio internacional. 
A indústria de alimentação, têxtil e de metalurgia leve cresceu enormemente, embora a agricultura de exportação e a criação de gado de corte tenham continuado senso a base da economia argentina.

Um novo golpe militar.
O Pacto Roca-Runciman sofreu criticas ferozes no interior do próprio grupo conservador, sobretudo entre militares.
Os pecuaristas foram acusados de vender a pátria aos ingleses, demonstrando que uma nova mentalidade estava se formando dentro do circulo militar.

Começava a se instalar no espírito de alguns militares um ódio ao inimigo externo, representado pela Inglaterra e pelo Brasil.

As razões que conduziam parte das elites a culparem os ingleses pela situação precária da economia argentina são obvias, contudo, com relação ao Brasil, o que motivava o sentimento era um clima de competitividade pela hegemonia militar na América do Sul.
Foi assim que em 1942 se organizou o GOU (Grupo Obra de Unificación ou Grupo de Oficiales Unidos), caracterizado pelo nacionalismo e por pretensões do estabelecimento de uma hegemonia argentina na América do Sul.
Ocorre que este grupo era declaradamente simpatizante do nazifascismo.
O GOU terminou por apoiando e constituindo a base do golpe militar de 4 de junho de 1943, liderado pelo General Rawson.
Na calada da noite do dia 3 de junho, dez mil soldados do Campo de “Mayo” e as guarnições de “Liniers” marcham sobre Buenos Aires.
O General Arturo Rawson foi investido presidência da republica, sendo substituído pelo General Pedro Pablo Ramirez, dois dias depois, em virtude de disputas internas.
Logo no inicio de seu governo, o novo regime, deixou bem claro seu caráter fascista, dissolveu todos os partidos políticos.
No entanto, devido a pressões norte-americanas, rompeu relações diplomáticas com a Alemanha e o Japão, países então fascistas. 
Em 26 de janeiro de 1944, ironicamente, a Argentina, sob um governo de orientação fascista, foi obrigada a declarar guerra ao Eixo, já quase derrotado, como condição para que pudesse fazer parte da ONU.
Note-se que, ao contrário do Brasil, não tendo sofrido prejuízos materiais ou humanos com a 2º. Guerra Mundial, esperou até o ultimo momento para declarar guerra aos países fascistas, inclusive recebendo e acobertando criminosos nazistas posteriormente.

Seja como for, rompendo com o Eixo, o General Ramirez foi forçado a renunciar, oito meses apôs ter tomado posse, a favor de seu então vice-presidente, o General Edelmiro Farrell.

Foi neste momento que Surgiu no cenário político o coronel Juan Domingo Perón, antigo adido militar argentino na Itália fascista de Mussolini.

Surge Perón.
Quando o GOU foi criado, Perón foi um dos seus fundadores, sendo peça fundamental no golpe de 1943.
Ligado há muito tempo ao novo presidente, o General Farrell, em 2 de dezembro de 1943, Perón passou a acumular o cargo de Secretario do Trabalho e Previdência com o de ministro da Guerra e vice-presidente da República.

Na ocasião Perón assim se pronunciou:

“Sempre espectador, como tenho sido, em minha vida de soldado, da evolução da economia nacional e das relações entre patrões e trabalhadores, nunca me foi possível acreditar na idéia, tão corrente, de que os problemas que tal relação origina sejam matéria privativa das partes diretamente interessadas”
Perón era um soldado profissional, identificado profundamente com a instituição militar, dotado de um talento excepcional para avaliar de forma fria e realista as forças em jogo e os fatores de poder político.
Sua personalidade era caracteristicamente autoritária, era ele um homem ambicioso, altamente condicionado a condução e organização, através do estudo dos métodos e instituições do fascismo italiano.
Ele soube utilizar com maestria os cargos acumulados para preparar sua subida ao poder.
Logo de inicio deixou claro seu caráter fascista, como se pode notar através de seu discurso de posse, ao pregar o intervencionismo do Estado e a centralização do poder.
Utilizando o apoio das Forças Armadas, da Igreja, da polícia e da burocracia governamental, gozando do apoio inglês, apesar de não nutrir nenhuma simpatia pela Inglaterra, Perón procurou ganhar o apoio dos trabalhadores industriais e das massas pobres da cidade e do campo.

Isto, a exemplo do que haviam feito seus pares na Itália e na Alemanha.
Perón organizou os trabalhadores em torno de si.
Até então a categoria estava carente de experiência sindical e política, bem como de uma ideologia própria.
Os operários se encontravam frustrados e carentes de necessidades materiais e psicológicas a serem satisfeitas, enxergando em Perón um líder a ser seguido e cultuado.
Os nascentes movimentos de esquerda foram desarticulados pela atração exercida pela figura que surgia.
Para garantir que os socialistas e comunistas não atrapalhassem seus planos, Perón livrou-se dos rivais pela repressão ou suborno, tomando medidas de caráter popular para se aproximar das massas.
A mentalidade de Perón na Secretária do Trabalho e Previdência pode ser sintetizada através de alguns de seus discursos pronunciados na época, tais como:

“No tenho o costume de prometer, sim de fazer. Por isso não venho a prometer nada. Vocês verão através do tempo as realizações que nós executaremos; irão vendo dia a dia o progresso a respeito dos problemas que as classes trabalhadoras de nosso país vivem tentando vencer desde vinte ou trinta anos, sem nenhum resultado.”

“Seria inútil que eu tratasse de explicar como temos cumprido com este postulado, que encerra todo o conteúdo social da Revolução. Eu prefiro seguir como até agora, sustentando que melhor que dizer é fazer, e melhor que prometer é realizar.”

“(...) não sou mais que um argentino; e não tenho outra ideologia que o povo da minha pátria, nem outro partido político que minha pátria...”.

“Por isso o exercito tem exposto a vida e a carreira de seus integrantes sem outro interesse que não o bem do país, que é o bem de todos.”

“Afortunadamente, nós não somos homens importantes, somos modestos soldados que nos temos dedicado a servir uma causa e não temos a pretensão de fazê-lo todo bem porém sim de fazê-lo com honradez e com boa vontade. E assim como pensamos que cada homem deve servir a seus semelhantes, pensamos do mesmo modo que o povo não está para servir ao governo, e sim o governo para servir ao povo. (...) Não queremos nada, não tememos nada; porém aspiramos a que ninguém possa dizer jamais que a Secretária do Trabalho não trabalhou com justiça e com honradez.”

“Nós não falamos dos trabalhadores com conhecimento teórico. Recebemos a vossos filhos e a vossos irmãos. Conhecemos vossos pesares e vossas desgraças. Sabemos como vivem os homens da Pátria.”

Como certamente pôde ser notar, o discurso do nascente movimento peronista estava em concordância com as varias características protofascistas.

O nascimento do fascismo peronista.
Perón procurou explorar a frustração coletiva e individual do trabalhador argentino, inflamando o nacionalismo e dizendo ser ele social.
Embora nada prometesse além da irracional ação pela ação, incentivava o apoio popular ao culto do nascente herói dos trabalhadores, seu líder, ele próprio, Perón, valendo-se de um populismo qualitativo.

Para tal não poupou esforços para reprimir seus inimigos, encarando qualquer discordância como sinônimo de traição.


Além disso, colocou lado a lado o exercito, um de seus principais sustentáculos até então, e o povo, como se fossem um só.
Uma postura que, aliás, pode ser perceber em alguns discursos:

“O exercito, que se responsabiliza pela coisa pública, o faz por uma circunstancia especial. Ele que é a força moderadora dos Estados na época presente, fez custodia da Nação em um momento em que não havia quem assegurasse todos os aspectos da justiça no país (...) Ele nos permitiu encarnar a massa trabalhadora, realizando assim uma conjunção indispensável ao Estado moderno, porque representam, em seus aspectos qualitativos, a massa da Nação.”
           
“Já terminou a época em que os políticos punham o exercito frente ao povo. Hoje, o exercito e o povo marcham na mesma direção e pelo mesmo caminho (...)  A Secretária do Trabalho e Previdência não é um organismo estatal mas, sim a casa dos verdadeiros trabalhadores, a casa que os defende e sustenta contra qualquer injustiça do passado, do presente e do porvir. É, em outras palavras, a garantia de que este país não voltara a produzir o drama da classe trabalhadora ludibriada pelos poderes públicos e enganada pelos políticos durante mais de cinqüenta anos.”

Desse modo, à medida que podemos identificar a ideologia peronista com o protofascismo, podemos percebê-la como propriamente fascista, embora adequada a realidade argentina e provida de características próprias.
Tanto é que o discurso peronista é muito aproximo do discurso nazista presente no “Mein Kampf”, a bíblia do nazismo, o que demonstra uma nítida influência das idéias de Hitler sobre Perón.

As estratégias fascistas de Perón.
Como Secretario do Trabalho, Perón concretizou o Estatuto do Peão no campo, reconhecendo o valor dos humildes, sem, no entanto, alterar substancialmente as relações entre patrões e trabalhadores.
Na verdade era apenas uma forma de impedir que os camponeses fossem influenciados por idéias anarquistas ou comunistas.

Nas cidades concedeu aumentos salariais e institucionalizou leis trabalhistas já existentes há alguns anos em outros países da América Latina, como o Brasil.

Criou, por exemplo, o chamado “aguinaldo”, uma espécie de 13a. salário.

Além disso, criou também os tribunais do trabalho, regulamentando as associações profissionais e unificando o sistema de previdência social, ampliando para todos os trabalhadores os benefícios.
Embora tais medidas possam parecer inovadoras, países como a Alemanha Nazista, a Itália de Mussolini e a Espanha franquista lançaram mão deste mesmo artifício, para ganhar o apoio popular, muito antes de Perón.
Espelhando-se nas reformas trabalhistas, levadas a cabo por países fascistas, inicialmente Perón conseguiu uma adesão unanime a sua política junto às massas.
Através da justificativa de que tal política era a única forma de garantir o controle e a ordem sobre a massa trabalhadora, assim como o crescimento das grandes atividades industriais e comerciais; também a elite aderiu ao nascente peronismo.
Tal como Hitler, Perón conseguiu o apoio das elites assustando a classe com o perigo do comunismo.
No contexto da época, à esquerda, do ponto de vista capitalista, representava uma ameaça concreta aos industriais e latifundiários, dada as latentes contradições internas presentes na sociedade argentina, que poderiam levar a população humilde a realizar uma revolução a qualquer momento.
No entanto, as medidas sociais implantadas por Perón terminam não agradando certos setores da classe dominante, sobretudo, ligados aos interesses imperialistas ingleses, e, portanto, beneficiários da política anterior.
Alguns latifundiários e grandes pecuaristas começaram a se opor as medidas adotadas por Perón, ainda apenas Secretario do Trabalho e Previdência, ministro da Guerra e vice-presidente da República.

Enfrentando a oposição de setores da direita e esquerda.
Além da oposição de grandes pecuaristas e latifundiários, Perón enfrentou também uma forte oposição de socialistas e comunistas.
Eles haviam sido afetados por suas medidas de força, perdendo apelo popular.
Na realidade, certos setores da sociedade argentina começavam a perceber o caráter nitidamente fascista do nascente peronismo, encarado como um perigo.
O governo norte-americano, ciente das tendências fascistas do novo governo, sabia que o responsável pela tendência era mais Perón do que o General Edelmiro Farrell, este último a rigor o presidente da republica.
Temendo seu caráter nacionalista, não propriamente suas tendências fascistas, os EUA incitaram certos setores da sociedade argentina contra Perón.
Cabe notar que, mesmo na Europa, os norte-americanos somente se opuseram aos regimes fascistas depois que esses começaram a ameaçar seu controle econômico no continente.
Os EUA chegaram ao ponto de até mesmo apoiar estes regimes quando lhes convinha, uma vez que o fascismo era útil para combater o comunismo.
Prova disto é que o regime fascista de Franco, na Espanha, resistiu à queda de Mussolini e Hitler, unicamente por ser útil aos norte-americanos e não ameaçar a hegemonia capitalista dos EUA.
Assim, os norte-americanos tramaram a queda de Perón, procurando incentivar o Brasil a invadir a Argentina, armando o país e oferecendo até mesmo pilotos norte-americanos para lutarem ao lado dos brasileiros.
Um plano chegou a ser elaborado pelo Pentágono, defendendo a tese de que o Brasil não deveria enviar soldados a África ou a Europa para lutar contra o fascismo, mas sim combater o nascente fascismo sul americano, representado por Perón.
O governo Vargas, que nutria até certo ponto simpatias pelos regimes fascistas, recusou-se a levar o plano adiante.
Por esses e outros motivos, organizou-se em 19 de setembro de 1945 a chamada “Marcha de la Constitución y la Liberdade”, com o intuito de destituir Perón de seus cargos.
Participam da marcha estudantes, profissionais liberais, comerciantes e alguns segmentos da classe média.
A massa trabalhadora, formada por operários, obviamente se recusou a participar, ao inverso, manifestando seu apoio a Perón.
As pressões continuam até 12 de outubro de 1945, com o apoio do embaixador norte-americano Spruille Braden.
Graças à adesão dos militares, que temiam uma invasão brasileira ou norte-americana, Perón terminou preso e enviado à ilha de Martin Garcia.
Em 10 de outubro de 1945, quando Perón foi obrigado a renunciar a seu cargo na Secretária do Trabalho e Previdência, assim se dirigiu as massas:

“Estamos empenhados em uma batalha que ganharemos porque é o mundo que marcha em sua direção. Há que se ter fé nessa luta e nesse futuro. (...) Ao deixar o governo, peço uma vez mais a vocês que se despojem de todo outro sentimento que não seja o de servir diretamente a classe trabalhadora. Desde esta noite, devido ao meu alejamento da função pública, tem corrido em alguns círculos a versão de que os operários estão agitados. Eu peço aos que estão nesta luta que me escutem. Não se vence com violência; se vence com inteligência e organização. Por isso lhes peço que conservem calma absoluta e cumpram o nosso lema de sempre: do trabalho para casa e de casa para o trabalho (...) Recordem e mantenham gravado o lema ‘de casa para o trabalho e do trabalho para casa’ e com isso venceremos.”

Nasce o peronismo.
Devido à pressão popular, no dia 17 de outubro de 1945, preso em local isolado e incomunicável, Perón terminou transferido para o Hospital Militar de Buenos Aires, de onde assistiu uma calorosa manifestação de apoio na “Plaza de Mayo”; organizada por sua equipe política, sob o comando do Coronel Domingo Mercante e por sua segunda esposa, Eva Perón.
A manifestação foi apoiada abertamente pela polícia, pela burocracia governamental e pela liderança sindical.
Aos gritos de “Perón, Perón”, a massa exigiu sua libertação e restituição ao governo.
A manifestação chegou a mobilizar mais de trezentas mil pessoas, paralisando a capital e parte do país.
Fabricas, lojas e até mesmo os serviços públicos paralisam suas atividades, liberando espontaneamente os trabalhadores para se unirem a massa peronista. 
O protesto não consegue que Perón fosse restituído aos seus antigos cargos, mas tornou-se um prelúdio do que estava por vir.
Em 24 de outubro de 1945 fundou-se o Partido Laborista (PL), através do qual Perón seria eleito presidente em 24 de fevereiro de 1946.
Durante a campanha eleitoral o PL deixou claro em seu programa seu caráter fascista ao pregar o nacionalismo, a modernização, a ordem social e a luta contra o inimigo externo (no caso o imperialismo ianque), assim como contra o perigo do comunismo.
Seu programa possuía itens de caráter populista, tais como a recuperação das indústrias fundamentais, a eliminação do latifúndio e divisão das terras, amplas reivindicações de previdência social, participação dos trabalhadores nos lucros das empresas e um imposto sobre a renda.
Não obstante era também nítida a orientação fascista.
Não por acaso, o embaixador norte-americano na Argentina, Spruille Braden, alertou seu governo para o fato, afirmando que estava interessado na derrota do nacionalismo, contrário aos interesses dos EUA.
Na época, Braden foi um dos principais defensores da tese de que o golpe militar de 1943, imediatamente após as derrotas da Alemanha em Stalingrado e no norte da África, não era mera coincidência.
Segundo o embaixador norte-americano, os militares a frente do golpe contaram com o apoio de consultores militares nazistas, que julgavam necessária a tomado do poder na Argentina, com o intuito de conservar uma base ideológica que pudesse servir de abrigo aos oficiais nazistas, caso a Alemanha perdesse a guerra.
Realmente, uma organização secreta nazista, que se auto-intitulava “Odesa”, esteve por traz do golpe de 1943, auxiliando financeiramente os militares argentinos que se propunham a proteger os oficiais nazistas, sobretudo os oficiais da “SS”, visando preparar um abrigo seguro para a fuga do capital alemão roubado dos judeus.


O Partido Laborista de Perón saiu vitorioso nas eleições mais limpas e isentas de qualquer suspeita de fraude que conheceu a Argentina até então, obtendo um milhão quatrocentos e setenta e oito mil votos contra os um milhão duzentos e doze mil votos da recém formada União Democrática.
Esta última foi uma coalizão partidária que congregava o setor majoritário da UCR (Junta Renovadora), os Partidos Socialista, Comunista e Democrático Progressista.
Mesmo com o apoio de dez milhões de dólares, fornecido pela Embaixada Americana, através de Branden, a UCR não conseguiu derrotar Perón, embora ele tenha terminado vencendo por uma margem estreita, apenas duzentos e sessenta seis cotas a mais.
Mesmo pregando o nacionalismo, habilmente, Perón soube fazer uso da rivalidade entre norte-americanos e ingleses, para com o apoio inglês, conseguir garantir sua volta ao poder.
 Dessa forma procurou garantir o apoio setores da sociedade que o haviam anteriormente derrubado.
O apoio inglês não foi gratuito, visou combater os interesses norte-americanos na Argentina em favor dos seus próprios.

Concluindo.
Devemos notar que, ironicamente, sem este apoio, talvez Perón não conseguisse vencer as eleições e, caso fosse eleito sem gozar do apoio inglês, poderia ter sido derrubado pelos norte-americanos, quiçá assassinado pela CIA.
Seja como for, o população argentina se posicionou diante da questão colocada pelo próprio Perón, em resposta as provocações do embaixador americano: “Branden ou Perón?”.
A massa optou pelo fascismo representado por Perón.
Apesar dele não gostar de ser rotulado como fascista, que é o modo como Branden tentava provocá-lo, na verdade não foi outra coisa se não fascista.

Perón foi um fascista não do tipo italiano, alemão, ou espanhol, mas sim argentino... um peronista.
Nesta medida, sua eleição representou, sem duvida, uma resposta imediata de certos setores da sociedade a ameaça vermelha na Argentina.

Para saber mais sobre o assunto.
Acompanhe os próximos artigos publicados na revista.

Texto:
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Doutor em Ciências Humanas - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.
Licenciado em Filosofia - FE/USP.

Bacharel em Filosofia - FFLCH/USP.




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Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

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